sábado, 29 de agosto de 2009

O Bêbado e a Equilibrista, por João Bosco e Aldir Blanc

Por: Rudolf, publicado em 22 de agosto no Blog do Cristovam

O Brasil ainda vivia tempos negros. A ditadura militar esperneava para permanecer numa sociedade que já não mais a aceitava, ávida por tempos novos, ansiosa por renovação. A abertura concedida tentava chupar do céu as manchas torturadas. Como se fosse possível controlar a marcha da história. Como se fosse possível dizer de que forma, como e quando o poder pudesse de novo ser entregue ao povo, de quem nunca deveria ter sido tirado. A cada concessão feita, uma pressão por nova concessão. O povo cada vez mais perdia o medo. Ia às ruas, por anistia, depois por eleições diretas, por uma nova Constituição. Fazia greves no ABC.

Foi nesse cenário que se concedeu a anistia. Ainda que ela tenha sido um acordo que, da parte dos militares, visava apagar o passado, tentar sepultar os crimes cometidos pelo arbítrio, a anistia permitiu a volta de importantes personagens da vida política brasileira, ícones da democracia, de cuja falta o Brasil tanto se ressente. Entre esses ícones, estava Herbert de Souza, o Betinho, o irmão do Henfil (esse outro ícone, o corajoso cartunista, mordaz,implacável com quem que hesitasse, um milímetro que fosse, na luta pela democracia). Na volta do irmão do Henfil, formou-se o ícone da luta pela anistia. E "O Bêbado e a Equilibrista", uma das mais lindas canções já compostas em língua portuguesa, tornou-se um hino do movimento. No dia em que a anistia faz 30 anos, 22 de agosto de 2009, a homenagem do Blog do Cristovam a Betinho a toda aquela "gente que partiu num rabo de foguete".
Caía a tarde feito um viaduto
E um bêbado trajando luto
Me lembrou Carlitos…

A lua
Tal qual a dona do bordel
Pedia a cada estrela fria
Um brilho de aluguel

E nuvens
Lá no mata-borrão do céu
Chupavam manchas torturadas
Que sufoco!
Louco!
O bêbado com chapéu-coco
Fazia irreverências mil
Prá noite do Brasil.
Meu Brasil!…

Que sonha com a volta
Do irmão do Henfil.
Com tanta gente que partiu
Num rabo de foguete
Chora
A nossa Pátria
Mãe gentil
Choram Marias
E Clarisses
No solo do Brasil…

Mas sei, que uma dor
Assim pungente
Não há de ser inutilmente
A esperança…

Dança na corda bamba
De sombrinha
E em cada passo
Dessa linha
Pode se machucar…

Azar!
A esperança equilibrista
Sabe que o show
De todo artista
Tem que continuar…

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