quarta-feira, 23 de junho de 2010

Desafiados pela ausência

O entusiasmo nacional pelo futebol, nestes dias de Copa do Mundo alegremente exposto nas ruas em coloridas arrumações para saudar os feitos da nossa seleção, fazem refletir sobre a essência do nosso povo. Há um orgulho pátrio desinibido, tipicamente brasileiro, desorganizado mas coerente com o sentimento verde e amarelo. 

É uma emoção dócil e afável a dos brasileiros. Interpretá-los na ação política é uma tarefa difícil, aos que se dispõem a fazê-lo com respeito e coerência. Porque são brasileiros que respondem em silêncio aos abusos sociais, suportam os rigores da discriminação racial, toleram a indiferença, aceitam a moradia precária. 

Aprender a ver e sentir as carências sociais é uma tarefa difícil; difícil alcançar a dor da família que luta com dignidade na limitação do seu salário mínimo, buscando melhorias para seus filhos. Difícil encontrar o sofrimento do doente desamparado, cansado da espera, prisioneiro do preço dos medicamentos. Difícil entender o vazio de uma criança sem escola, ignorante do seu direito, vazia na solidão do seu direito constitucional. 

A leitura destes sentimentos foi lição deixada por um brasileiro que sublimou a pobreza da sua origem e fez do látego da exclusão a sua maior convicção. No último dia 21 de junho, há seis anos Leonel Brizola morreu. E desde então, vivemos o desafio de enfrentar a realidade com o seu silêncio. Corajoso e coerente, ele desafiou a pobreza, estudou e ingressou na política, enfrentou os militares na Campanha da Legalidade, os longos anos de exílio, refez o trabalhismo e nunca calou sua indignação contra a injustiça. 

Temos sido incapazes de superá-lo, sequer conseguimos dar-lhe voz em tantos momentos críticos da vida política nacional. Mas não o esquecemos nunca e, com o seu legado de líder nacional, continuamos desafiados a seguir-lhe o exemplo.


Romildo Bolzan Júnior, presidente estadual do PDT

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