terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Mais sobre o Aterro Sanitário

Não me canso de dizer: Isso ainda vai feder...

No sábado, dois dias antes da audiência da Câmara de vereadores, chamou-me atenção materia paga, no jornal Primeira Folha do dia 15 de Janeiro, edição 2017, pelo ex-assentado Gildair P. da Paixão, defendendo o Aterro Sanitário de Metade do RS, ainda que o mesmo esteja muito próximo dos seus antigos vizinhos dos assentamentos N. Senhora Aparecida e São José.

Da mesma forma, em consulta ao site da Ong Cea (Centro de Estudos Ambientais), despertou-me interesse a materia postada por uma assentada de Herval, que com a simplicidade e vocação de quem tira o sustento na agropecuaria, em um pequeno lote de terra, expressa suas preocupações com as questões ambientais. 

Para que cada um tire suas conclusões e expresse sua opinião, neste espaço democrático, segue na íntegra o texto em referência.

" No início do mês de dezembro de 2009, estive no interior de Hulha Negra, para participar de um Encontro de Assentados da Reforma Agrária. Entre muitos dos temas a ser conversados a termelétrica ocupava um espaço bem grande na programação, isso me chamou a atenção.Logo começaram os relatos, diversas pessoas se prontificaram a falar, e o que ouvimos não parecia ser no Brasil, ainda mais quando se tratava de um lugar tão próximo ao meu.Alguns relatos feitos não só na plenária, como também pelos corredores, me espantaram, relatos que compartilho neste texto.O companheiro Kiki, nos contou que estava com um amigo, instalando uma bomba na beira do rio que corre dentro de seu pedaço de chão, para irrigar uma pequena lavoura de arroz. Ele estava na parte baixa da margem fazendo a colocação do cano de sucção da água, o outro esperava mais acima. Quando ele quase morreu afogado, mas não caiu na água, ele quase morreu no meio de cinzas, despencou sobre eles, uma nuvem densa de cinzas da Usina, a terra segundo ele ficou coberta por quase 30 centímetros de cinzas. Foi salvo pelo amigo que o acompanhava, e ainda não pôde plantar aquela área atingida diretamente pela cinza porque a área ficou “torrada”.Outras pessoas colocaram a dificuldade financeira que estão vivenciando, os que têm como sua principal linha de produção o leite, cada vez com mais freqüência, tem o seu produto recusado pela alta acidez e muitos deles pedem que algum órgão competente vá lá e comprove ou não à eles que isso tem há ver com a Usina. Eles acreditam que a acidez do leite seja derivada das, cada vez mais freqüentes, chuvas ácidas geradas pela Usina. Colocam também o problema que está ocorrendo como o couro dos animais, eles estão pelechando fora de época, como se as chuvas acidas estivessem também atingindo o couro.Um senhor de Bagé, compartilhou conosco a sua realidade. Ele faz trabalhos com crianças com problemas neurológicos em Bagé, trabalha com diversas formas de artesanato, uma delas a argila. Trabalhou durante muitos anos com a argila vinda das escavações do carvão (ela se localiza entre uma camada e outra de carvão e outros materiais), depois de perceber a não-cicatrização de alguns ferimentos, na mão e no corpo, procurou um médico, após realizar alguns exames foi detectada em seu organismo a presença de muitos metais pesados, e isso estava atingindo diretamente seu sistema imunológico. Ele começou então a pesquisar toda sua rotina em detalhes para poder saber de onde partiu o problema. Depois de muito estudo se descobriu que o problema vinha da solução de suas aulas, da argila, e o trabalho com a argila poderia até matar aqueles meninos que estudavam com ele.Várias pessoas perderam suas lavouras, não só em Hulha Negra, mas em todos os municípios vizinhos e também no Uruguai. Praticamente não há mais peixes nos poucos rios da região. Todas as pessoas conhecem alguém com problemas de pulmão. Todas as pessoas conhecem uma mãe ou um pai, que tiveram um filho com má formação, problemas neurológicos e físicos. Educadores colocaram a dificuldade de lecionar, e relatam que as crianças apresentam dificuldade de memorizar conteúdos, falta de atenção, e muitos apresentam pequenos distúrbios neurológicos.As pessoas estão com dificuldade de encontrar água, os cinco poços cavados recentemente apresentaram alta concentração de metais pesados.Além disto, como se não bastasse, agora querem retirar estas pessoas daquelas áreas, retirar Assentamentos de quase 20 anos, retirar famílias que moram ali à mais de 3 gerações em nome do carvão. Existe uma área imensa com carvão no subsolo, citaram no encontro que é a terceira maior reserva do mundo e o Governo já se comprometeu com a empresa de retirar as pessoas de lá, faz parte do PAC, a ampliação e criação de mais termelétricas.Agora com a fase III da Usina de Candiota (chamada lá de Candiotão) em plena construção, o Governo reacendeu seu interesse pelo carvão mineral. A empresa CGTEE fechou acordo com todas as Universidades da região, UNIPAMPA, UFPel, UCPel, FURG, todas trabalhando em prol da empresa, ficamos sem alguém que possa trabalhar em prol de nós mesmos. A empresa fechou acordos de apoio à formação de Professores em Educação Ambiental, coincidentemente com toda as Prefeituras cujo o subsolo de seus municípios apresentam reservas de carvão mineral, e em Herval não só está acontecendo o curso como quem não é professor é impossibilitado de participar.É difícil acreditar nisso tudo… eu sei que sim, já relatei isto à várias pessoas e elas não acreditaram, disseram que era exagero, que o povo aumenta muito. Mas é engraçado, porque quando eu relato sobre a poluição da China, as vilas do câncer semelhantes aos antigos leprosários, que o tempo de duração de vida útil no trabalho de um chinês é de dois anos, com sorte três, quando relato a China, não me duvidam e ainda fazem comentários do tipo “e tem mais coisa que agente não sabe”. Mas quando estes problemas ameaçam a forma acomodada de viver, e tão próximos, fica mais difícil acreditar."

Por Marília G. (Assentamento Tamoios de Herval- RS)

7 comentários:

  1. Que belo exemplo de conciência e luta da colona Marília,assentada no vizinho município de Herval. Este texto deveria ser lido e distribuido nas escolas do município.
    Certamente temos muitas Marilia(s) em Candiota, como existem tabém outros Gildair (es).

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  2. Que piada, o seu Gildair agora é funcionário da Meioeste Ambiental. Esta tudo explicado. Também vou publicar uma nota para ver se consigo um emprego, ja que esta é a política adotada pelo seu Paulo Carpes.

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  3. Alguém tem dúvida de quem pagou o custo, à A1ªFOLHA, da Nota publicada e assinada pelo Gildair ? Eu não tenho. Voces viram os elogios do Dr. PC3 (Paulo Cesar Carpes da Costa),ao Gildair, na audiência, pela nota publicada.
    Trocando de assunto, tem circo chegando em Candiota.

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  4. O prefeito falador deveria é ter um pouco mais de consideração e respeito com o povo que o elegeu, e mandar essa empresa, meio oeste embora de Candiota ,ou é ele quem vai ser mandado embora junto com o lixo da metade sul do estado RS.

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  5. A próxima grande obra em Candiota será um presídio estadual, bem ao lado da escola em Lassance.

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  6. Caro Pablo. Como interessado no assunto aterro me causou curiosidade uma questão que não foi levantada. O aterro de Candiota possui uma licença para resíduos de 200 mil habitantes (http://www.fepam.rs.gov.br/licenciamento/area3/lista1.asp?buscar=2&tipoBusca=pess_id&npess_id=179865&municipio=4304358&ramo=3542.20). Como está sendo oferecido para disposição de Pelotas que possui 350 mil habitantes?

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  7. Pode ter certeza: se o prefeito do boné apoia, é uma roubada para os candiotenses.

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