quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

O Príncipe e a Esquina Bianchett

Desde muito jovem, e faz tempo, peguei o gosto pela leitura. Foi assim na década de 70, quando “matava” as aulas no Colégio Estadual e ao lado, na tradicional Esquina Bianchetti, entre um petisco e uma caipirinha, nas noites gélidas de inverno, devorava uma Folha da Tarde, da também extinta Calda Junior.

Boas lembranças me levam a efervescência dos anos 70 e ao histórico restaurante e lancheria Bianchetti. Neste cenário, conheci e convivi com uma grande diversidade de pessoas, de ilimitados aspectos. Da tristeza de presenciar um jovem se auto-injetando drogas, no banheiro do segundo piso do restaurante, ao privilégio de presenciar, no primeiro piso, o grande jurista Paulo Brossard que, à época, além da presença habitual e marcante (com seu inseparável chapéu), também era figura política de primeira grandeza no Congresso Nacional.

Pois foi nesta época que, pela primeira vez, tive acesso às teorias de Machiavel, através do best-seller “O Príncipe”. De lá para cá voltei ao livro por inúmeras vezes, que confesso muito mais por ser uma leitura afanosa do que por qualquer outro motivo.

Por questões estratégicas, para não admitir desorganização, mantenho dois ou três exemplares na pequena biblioteca. Até porque, vez por outras, o empresto com caráter de presente, como o fiz outro dia com minha prima e professora Silvia Souza.

Para muitos, Nicolau Maquiavel é o pai da sociedade moderna. Outros associam o adjetivo maquiavélico à “esperto” e “astuto”, entre outros de sentido pejorativo. Circunstancial, por que não dizer oportunamente, interessante se faz expor em linhas bem gerais, uma síntese deste pequeno tratado político.

Maquiavel, no início do século XVI, desenvolveu seus pensamentos num período turbulento e amoral da história italiana e com uma visão pessimista da natureza humana.

Maquiavel relata em seu texto “O Príncipe” a seguinte questão: como aquele que governa deve agir. E enumera através de vários capítulos o que o príncipe precisava fazer para que seu poder não fosse ameaçado por ninguém.

Para ele, os fins justificavam os meios. O Estado era um fim em si mesmo. A suprema obrigação do governante era manter a ordem, o poder e a segurança. Para tal, o governante deveria usar os meios necessários para capacitá-lo a essa obrigação, e para isso destacava os seguintes princípios, entre outros:

“O governante não deveria ter confiança nos seus governados e deles não deveria esperar lealdade ou afeição, porém respeito as suas decisões.”

Dizia ele, se preciso fosse, ser cínico e enganoso, de forma a convencer os seus governados. O Príncipe deveria fazer o bem em doses pequenas, mas se precisasse fazer algo mais forte ou violento, deveria fazê-lo rapidamente, de forma a não causar o horror ou revolta, mas o acatamento e respeito.

Destacava, em “O Príncipe”, que o governante deveria agir de forma a evitar arruinar-se, mas ao contrário preserva-se. Se necessário, lançar uns contra os outros, em proveito próprio ou deixar as coisas acontecerem simplesmente.

Em um trecho, cita que um líder deveria inspirar ao mesmo tempo amor e ódio, mas por conta da dificuldade de se manter as duas coisas, era preferível do ponto de vista da arte de governar (e mais seguro) ser temido do que amado.

Maquiavel mostrou em “O Príncipe”, escrito em 1513, que a moralidade e a ciência política são separadas. Ele apontou a contradição entre governar um Estado e ao mesmo levar uma vida moral.

É de Maquiavel a afirmativa que todos os homens são movidos por interesses egoístas, em particular ambição pessoal e a prosperidade material a qualquer custo. Assim como a célebre frase: “A primeira impressão que se tem de um governante e da sua inteligência é dada pelos homens que o cercam.”

Hoje, passados mais de 500 anos, muito do que acontece na política tem uma forte relação com o que Maquiavel escreveu.

Ele não predispôs o sistema político futuro e sim analisou somente o presente, à sua época, que não era muito diferente de hoje, em que maquiavélicos agem de forma pragmática, não se importam com os meios, nem com a reputação daqueles que o cercam, desde que seus objetivos pessoais sejam alcançados.

Um comentário:

  1. Se for correta a máxima que não existe democracia sem partidos políticos, também é correto afirmar que a qualidade da democracia depende visseralmente da qualidade com que os partidos políticos representam, recrutam e governam. A afirmativa é de um cientista político chamado Peter Maier.
    Segundo ele, os partidos políticos necessitam fazer uma mudança de paradigma, com uma atuação mais efetiva e constante junto aos filiados e simpatizantes; fazer uma investigação permanente da vontade coletiva, dando respostas coerentes a ela; ter um compromisso com a ética, superando a imagem de organização corrupta, passando a ser uma instituição que os filiados e simpatizantes possam confiar, e, por último, ter uma eficaz regulamentação e comprimento da FIDELIDADE PARTIDÁRIA, dando idéia de uma organização constante, com que se possa contar mesmo depois dos pleitos derrotados.
    Estas idéias foram difundidas em um livro publicado em 1911 - A sociologia dos partidos políticos. Nunca esteve tão atual.

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